
Amnésia turca esconde quase um milhão de vítimas armênias
Massacre de otomanos de 1915 e 1916 é assunto proibido no país.Mas, nos últimos dez anos, as coisas começaram a mudar.
Para a Turquia, o número deveria ser explosivo. Segundo um documento escondido por muito tempo, pertencente ao ministério do interior do Império Otomano, 972 mil armênios otomanos desapareceram dos registros de população entre 1915 e 1916. Na Turquia, qualquer discussão sobre o que aconteceu com os armênios otomanos pode trazer indignação pública. Porém, desde sua publicação num livro lançado em janeiro, o número – e sua fonte otomana – passou praticamente sem ser mencionado. Os jornais mal escreveram sobre a questão. Os programas de televisão não a discutiram. "Nada", disse Murat Bardakci, o autor turco e colunista compilador do livro.
O silêncio só pode significar uma coisa, ele disse: "Meus números são altos demais para as pessoas comuns. Talvez elas ainda não estejam prontas para falar sobre isso". Por várias gerações, a maioria dos turcos não sabia nada dos detalhes do genocídio de 1915 a 1918, quando mais de um milhão de armênios foram mortos enquanto o governo turco otomano expurgava a população. A Turquia trancou as partes mais horrendas desse passado distante, no melhor estilo soviético, mantendo qualquer menção a esse acontecimento fora dos livros escolares e narrativas oficiais. Era uma campanha agressiva de esquecimento. No entanto, nos últimos dez anos, à medida que a sociedade civil florescia aqui, algumas partes da sociedade turca têm questionado abertamente a versão do Estado. Em dezembro, um grupo de intelectuais circulou uma petição exigindo um pedido de desculpas pela negação dos massacres. Cerca de 29 mil pessoas a assinaram. Com esse livro, "O Restante dos Documentos de Talat Pasha", Bardakci se tornou, involuntariamente, parte deste fermento. O livro é uma coleção de documentos e registros que já pertenceram a Mehmed Talat, conhecido como Talat Pasha, o principal orquestrador das deportações armênias. Os documentos, entregues a Bardakci pela viúva de Talat, Hayriye, antes de morrer em 1983, incluem listas de dados populacionais. Antes de 1915, 1.256.000 armênios viviam no Império Otomano, segundo os documentos. O número caiu para 284.157 dois anos depois, disse Bardakci. Para o ouvido mal treinado, é simplesmente uma triste estatística.
Porém, qualquer conhecedor do assunto sabe que os números são conflitantes. A Turquia nunca reconheceu um número específico de deportados ou mortos. No último domingo, o Ministro das Relações Exteriores turco alertou que o presidente Barack Obama pode reiniciar relações se ele reconhecer o massacre dos armênios como genocídio antes de sua visita à Turquia no próximo mês. O colapso do Império Otomano foi sangrento, argumentam os turcos, e os que morreram foram vítimas daquele caos. Bardakci endossa esse ponto de vista. Os dados, diz ele, não indicam o número de mortos, somente o resultado do declínio da população armênia depois da deportação. Ele discorda fortemente que os massacres representaram um genocídio, e reitera a obrigação da Turquia de tomar uma atitude contra os armênios, pois eles apoiavam abertamente a Rússia na guerra contra o Império Otomano. "Não se tratava de nazismo ou holocausto", ele disse. "Foram épocas muito obscuras. Foi uma decisão muito difícil. Porém, a deportação foi o resultado de alguns eventos bastante sangrentos. Foi necessário para o governo deportar a população armênia". Este argumento é rejeitado pela maioria dos estudiosos, que não acreditam numa possível ameaça vinda de um pequeno número de rebeldes armênios ao Império Otomano. Eles também não creem que a política era mais um produto da percepção de que os armênios, não-muçulmanos e, portanto, não-merecedores da confiança, eram uma população problemática.
Hilmar Kaiser, historiador e especialista sobre o genocídio armênio, disse que os registros publicados no livro eram uma prova conclusiva de que a própria autoridade otomana buscou ações calculadas para eliminar os armênios. "De repente, numa página, temos a confirmação dos números", ele disse. "É como se alguém batesse na sua cabeça com um cacetete". Kaiser sustentou que os números de antes e depois correspondiam a um "registro de morte". "Não existe outra forma de enxergar esse documento", ele disse. "Não dá pra esconder um milhão de pessoas". Outros estudiosos disseram que o número é uma soma útil ao registro histórico, mas que não apresenta uma nova versão para os eventos. "Isso corrobora o que já sabíamos", disse Donald Bloxham, autor de "The Great Game of Genocide: Imperialism, Nationalism and the Destruction of the Ottoman Armenians." Apesar de Bardacki querer claramente que os números fossem conhecidos, ele se recusa veementemente a interpretá-los. Ele não oferece nenhuma análise em seu livro. Com a exceção de uma entrevista com a viúva de Talat, não existe praticamente nenhum texto além dos documentos originais. "Eu não quis fazer interpretações", ele disse. "Quis que o leitor decidisse." A melhor forma de fazê-lo, ele argumenta, é usando dados frios e imparciais, que podem ser removidos das camadas de retórica, onde o assunto foi nublado durante anos. "Acredito que precisamos de documentos na Turquia", ele disse. "Isso é o mais importante." No entanto, alguns dos mais astutos observadores da sociedade turca disseram que o silêncio era um sinal de como o tópico ainda é um tabu. "A importância do livro é óbvia pelo fato de nenhum jornal, com exceção do Milliyet, ter escrito uma única linha sobre ele", escreveu Murat Belge, acadêmico turco, numa coluna em janeiro no jornal liberal Taraf. Ainda assim, é uma medida da maturidade democrática da Turquia que o livro tenha sido publicado aqui. Bardakci afirmou ter guardado os documentos por tanto tempo – 27 anos – porque estava esperando que a Turquia chegasse a um ponto onde a publicação deles não causasse histeria. Até mesmo o estado agora sente a necessidade de se defender. No último verão, um filme de propaganda sobre os armênios, realizado pelas forças armadas turcas, foi distribuído nas escolas primárias. Depois de protestos generalizados, a ação foi interrompida. "Nunca poderia ter publicado esse livro há dez anos", disse Bardakci. "Seria chamado de traidor."
E acrescentou: "A mentalidade mudou".
[Nota:] Há alguns anos atrás a Igreja Adventista do Sétimo Dia lançou através da Casa Publicadora Brasileira o livro A Exilada, que conta a história da jovem armena Serpouhi Tavoukdjian.
A história da menina tem muito da história da Armênia. Seu país foi praticamente eliminado.
Mas, além do país, a intenção era exterminar também seu povo. Serpouhi e sua família fizeram parte da massa humana, tocada em direção ao deserto, sem qualquer piedade, ao encontro da morte.
Vale a pena conferir.
Gosteria de adquirir este livro com esta história tão tocante de uma lição de vida q para nosso tempo servirá para ajudar muitos a valorizar a vida cristã!Como posso adquiri-lo?
ResponderExcluirOlá Selminha! Bem-vinda ao blog!
ResponderExcluirO livro que eu citei é muito antigo e eu não sei se você o encontrará. Ele foi publicado pela Casa Publicadora Brasileira.
Mas como não gosto de deixar meus leitores na mão eu pesquisei onde poderia adquirir e achei esse site de livros usados. O preço está muito bom pelo conteúdo do livro.
Sinta-se a vontade em ler e comentar o blog!
http://www.estantevirtual.com.br/seboms/Serpouhi-Tavoukdjian-A-Exilada-a-Historia-de-uma-Jovem-Armenia-26220051
eu estou lendo este livro uma amiga me deu
ResponderExcluirmuito bom
Olá "anônimo" rsrsrs... Seja bem-vindo (a) no meu blog.
ResponderExcluirRealmente esse livro é muito bom!