sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Exército


Na última terça-feira eu fui cumprir meu dever de cidadão e fui me apresentar em uma unidade do Exército Brasileiro para carimbar a reservista.
Servi a pátria amada durante 5 anos como 3º Sargento de Saúde do 22º Batalhão Logístico Leve, pertecente a 12ª Brigada de Infantaria Leve Aeromóvel - Força de Ação Rápida (FAR). Esta brigada está organizada, equipada e adestrada para cumprir missões em curto prazo e em qualquer ponto do território nacional em até 24hs utilizando meios de transportes aéreos para realizar manobras de assalto com a finalidade de ataque ou resgate. Era esse o papo de deixava as meninas doidinhas... (isso acabou quando eu conheci a Vi, mas isso é um outro rascunho)
Eu bem que poderia ir no B Log (como é conhecido o quartel), mas resolvi ir ao 20º GAC L (Grupo de Artilharia em Campanha Leve - que participou da 2ª Guerra Mundial em algumas batalhas famosas como as de Castelnuovo). Logo quando me aproximo da guarda (portão de entrada os leigos) as lembranças surgem na mente como se estivesse revivendo as memórias ao vivo.
Está certo que eu não estava no meu antigo batalhão mas clima de quartel é tudo igual. Logo na entrada um soldado me pergunta:
- Vai carimbar a reservista?
Respondo com um grunhido inaldível um aceno de cabeça.
Fiquei considerando que aquilo era um mal sinal, logo na entrada o cara não pediu meus documentos, não revistou minha mochila... E se eu fosse um assassino, homem-bomba ou coisa do gênero? Não se fazem mais soldados como antigamente...
Depois que me incorporei na turma que ia caminhando rumo à sala onde faria uma rápida entrevista as lembranças me viam a mente como um turbilhão. Só quem serviu o Exército sabe do que eu tô falando. Os pinheiros soltando seus gravetos secos ao vento, soldados em uniforme de TFM (treinamento físico militar) fazendo o famoso "faxinão" no pátio, outros de macacão sujo de óleo diesel tentando consertar as viaturas, outros "voando"...
Chego na sala e logo sou cumprimentado por um camarada que nunca me viu na vida com um entusiasmo de como se tivesse sido meu companheiro de "ralação". Dessa vez não deu para responder apenas com grunhidos e acenos.
Entro na sala e encontro o agora 3º Sgt Vanderlei Januário. Na época em que eu servia, ele era Cabo, foi promovido à Sgt por tempo de serviço.
Engraçado, no ano passado quando fui carimbar a reservista ele também estava lá. Na verdade ele é do 20º GAC L, ele só trabalhava no B Log prestando serviços na secretaria.
Entrego meu CPF junto com a reservista. Espero uns segundinhos e logo sou chamado pelo Sgt Vanderlei para a entrevista. Tinha sido um dos últimos a chegar e fui o primeiro a ser atendido. Estou certo de que ele quis me privilegiar pelo fato de ter sido Sgt.
A entrevista é tranquila, algumas perguntas de praxe sobre atualização de cadastro em meio a uns comentários vazios típicos de quem não tem muito o que conversar. A medida que os anos passam as pessoas estão cada vez mais presas em suas rotinas e obrigações, as novidades são muitas porém o tempo para partilhá-las com os amigos é escasso, logo cessam os telefonemas, as trocas de e-mails e as amizades vão ficando apenas na memória de quem um dia foi e não é mais.
É verdade que 3º Sgt Vanderlei Januário não era meu amigo como eram o Juam, Marcolina, Justino, César... Era apenas um conhecido do quartel que prestava serviços onde eu trabalhava mas que sempre tirava serviços comigo e era inevitável que converssássemos bastante. No ano passado quando eu fui carimbar a reservista a nossa conversa demorou um pouco. Revivemos lembranças de alguns companheiros, notícias a respeito de mudança de comando, modificações de rotinas e etc. Um ano depois se resumiu a aproximadamente 3 minutos.
Um aperto de mão e um "até o ano que vem" em meio a um sorriso amarelo denotando um certo desconforto foram os gestos de despedida.
Saio da sala e sigo meu caminho rumo ao portão, dessa vez estou sem os demais que entraram comigo. Avisto 3 soldados limpando o chão em meio a gargalhadas no calor insuportável do mês natalino. Em suas mãos estão arados e pás ao invés de fuzis e pistolas. Éxercito é isso, companheirismo mesmo em meio as dificuldades. Todo mundo tá na lama cansado, com fome e frio mas todos se ajudam, soldado esmorecido não sobrevive à luta, seja na guerra sangrenta dos campos de batalha ou na correria da vida diária. Logo se aproxima do grupo um soldado a paisana segurando um livro Sinais de Esperança na mão. A má impressão da entrada quando não fui revistado foi recompensada pela satisfação dessa cena na saída, imediatamente elevo uma oração aos céus para Deus iluminar a mente desse jovem. Que ele possa compartilhar esperança com seus companheiros de caserna.
Ao sair do quartel carrego comigo a sensação do dever cumprido e a certeza de que no ano que vem eu terei que repetir tudo denovo. Saio alegre e feliz porque o Exército me remete a boas lembranças da minha vida sentimental, profissional e acadêmica. Nem tanto da vida castrense, mas sim ao que estava paralelo a ela.
Volto para casa revivendo a nostalgia daqueles tempos e acidentalmente deixo rolar uma lágrima. Se era emoção ou saudade eu não sei, só sei que foi assim.
[Nota:] Oração do combatente aeromóvel. Incontáveis são as vezes que a tropa tinha que repetir isso nos treinamentos, acampamentos e exercícios de combate. Chegava a encher o saco, mas tem uma coisa, é de arrepiar!

"SENHOR!
Vós que forjastes o combatente aeromóvel,
Com a audácia e a têmpera do aço,
Para arrojar-se nos céus fulminante,
Sobre os inimigos da liberdade da nossa Pátria!
Vós que o protegestes sob o escudo da honra,
E o armaste com a dignidade dos justos!
Permita também, Senhor,
Que carregue a crença no futuro para jamais esmorecer,
A coragem para enfrentar os desafios do campo de batalha,
E o orgulho para levá-lo à vitória final!"

Aeromóvel, Brasil!!

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