sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Naufragando no Mar Revolto


Essa semana eu vivi a grande expectativa de voltar ao mercado de trabalho exercendo minha profissão de Enfermeiro.
Já se vão quase dois anos de espera por uma oportunidade, colecionando frustrações, insatisfações e mais um monte de outras "ões" de caráter negativo.
Surgiu então a oportunidade de participar de um processo seletivo no Hospital Geral de Itapevi.
Tudo aconteceu muito rápido, entreguei meu currículo no dia 11 de janeiro, fiz uma prova no dia 23, recebi o resultado da aprovação no dia 26, antevéspera do meu aniversário, fiz a dinâmica de grupo no dia 28, dia do meu aniversário e todos os que me rodeavam tinham a plena convicção de que chegara o grande momento tão aguardado nos últimos meses. A ansiedade parecia dar a lugar a euforia, parecia.
Dia 30 de janeiro, 09:00hs da manhã, telefone na mão, garganta seca, pernas bambas, voz trêmula, as mãos suando mais do que uma tampa de chaleira, e uma sensação de insegurança maior do que a de um morador do Rio de Janeiro.
Resolvo fazer uma oração, mais uma das mais de 100 que tenho feito desde que começou tudo isso. Término da oração, não dá mais para esperar, é a hora da verdade, todo o esmero que tenho empregado nesse processo seletivo teria sua recompensa anunciada pela voz de uma telefonista após minutos intermináveis de espera na linha.
A telefonista central repassa para o ramal do setor de recrutamento e seleção. Um misto de fé e temor tomam conta do meu ser, vivo um turbilhão de emoções, minha mente fervilha. Será que vou comemorar? Será que vou me frustrar? Será que vou chorar? Se sim, de emoção ou de tristeza?
Para aumentar o sofrimento, a ligação retorna para a telefonista central que passa outra vez para o ramal da seleção. Dessa vez a telefonista do setor desejado atende a chamada, hesito por um segundo e pergunto com voz vacilante o resultado da dinâmica de grupo como se já soubesse a sentença.
- Um minuto, vou verificar.
- Pois não!
- Você fez dinâmica para qual vaga?
- Para vaga de Enfermeiro.
- Hummm... Deixe me ver...
- (...)
- Sinto muito Sr. Almir, mas para esta oportunidade foi feita opção por outros candidatos, mas seu cadastro continua conosco para futuras avaliações, desde que entendemos ser o seu perfil adequado com as características do setor.
- Obrigado.
- De nada, tenha um bom dia!
- Tu-tu-tu-tu....
Bom dia? Depois de saber que vou ficar na fila do desemprego denovo? Depois de saber que vou ter que olhar denovo no rosto dos meus familiares e amigos e dizer que DEUS preferiu que um ímpio ocupasse a vaga?
Sinceramente não sei o que faço da minha vida. É sempre assim, sempre passo nas provas, mas quando chego na dinâmica de grupo eu me dou mal.
O que esses psicólogos sabem a respeito da profissão de Enfermagem? Por que eles tem que nos avaliar? Eu nunca vi um Enfermeiro avaliar um psicólogo em um processo seletivo, mas eles estão sempre presentes em nossas avaliações. Não dá para entender. Se vamos vestidos à vontade, somos desleixados. Se vamos de terno e gravata, queremos impressionar mais do que devemos. Se falamos muito, somos falastrões tagarelas. Se falamos pouco, somos introspectivos.
Não aguento mais carregar frustrações nos meus ombros. Me sinto perdido a noite em uma tempestade no alto mar. As inclemências do tempo fazem com que as ondas castiguem minha embarcação, as águas invadem o convés e sinto que não conseguirei mais singrar o mar revolto do oceano chamado desemprego.
Não aguento mais ouvir a demagogia hipócrita daqueles que estão com suas vidas de vento em popa, navegando em águas calmas, ou ancorados no porto seguro, tentando me consolar por mais esse naufrágio.
Me sinto como Pedro no Mar da Galiléia. Os ventos da noite fizeram com que ele se afogasse no mar de seus problemas.
A grande diferença entre Pedro e eu é que quando ele clamou o nome de Jesus, este estendeu Sua mão poderosa e o salvou, levando-o de volta para o barco.
No meu caso, ainda estou sendo assaltado pelas ondas revoltas do mar da vida, o bote inflável se perdeu em meio a tempestade, tô engolindo água salgada, prestes a ser devorado por tubarões, e muito distante de enxergar a luz de um farol ou alcançar um porto seguro.

Um comentário:

  1. Quando me tornei cristão, há 19 anos, o fiz porque havia encontrado a Jesus como meu Senhor. Muitos me perguntavam por que eu havia tomado esta decisão, eu respondia que sentia que Deus estava me chamando. Logo que me batizei a minha vida se tornou uma tormenta em um mar negro e desconhecido: perdi meu emprego, minha esposa teve complicações no parto, ela adquiriu uma infecção, fiquei doente, meu filho teve pneumonia dupla, a minha família se afastou, alguns irmãos me acusavam de pecado, outros de orgulhoso, estava devendo aluguel, tive que me mudar para um barraco onde era morada de ratos, vendi picolé na rua, algodão doce. Antes de tudo isso eu trabalhava como representante comercial ganhava mais de vinte salários de comissão, agora todas as portas estavam fechadas, estava à deriva em um mar de dúvidas e perguntas sem respostas; entre tantas outras coisas que estavam me acontecendo. Foram mais de sete anos... Até que compreendi que o tempo de Deus não era o meu tempo. Meu querido amigo Almir... O tempo de Deus não é o seu tempo... Espere no Senhor e Ele renovará suas forças a cada manhã até que chegue o tempo de Deus e então você se deleitará no Senhor

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